quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Café.

Cheguei, escolhi rapidamente uma mesa e sentei.
Logo chegou a garçonete perto de mim e perguntou o que eu desejava,
Pensei em muitos milhões em minha conta bancária,
Uma casa numa praia deserta,
Uma lareira e um homem maravilhoso se declarando pra mim enquanto eu admirava a lua,
Mas ao invés disso eu pedi apenas um café.
- Pequeno, médio ou grande? - Ela perguntou automaticamente.
- Grande, gigante, o maior que vocês tiverem na casa. - Afinal eu não pretendia sair dali tão cedo.
E não demorou muito ela me trouxe uma xícara enorme transbordando de café,
Eu peguei de suas mãos e agradeci com um sorriso quase simpático.
Nunca fui muito fã de café, na verdade nem sei porque entrei naquele lugar e estava tomando aquilo,
Mas eu não queria respostas, até queria, mas não pra essas perguntas.
Então fiquei ali, quietinha com meus pensamentos.
Enquanto o vapor do café aquecia meu rosto eu me divertia com as gotículas de suor que surgiam em minha testa, como se fora a primeira vez que fazia aquilo.
Apertei a xícara o mais forte que pude, até sentir meus dedos e mãos tão quentes quando o líquido, e depois soltei.
Ainda não entendia o motivo de estar ali, mas pra mim não fazia diferença, eu só queria estar.
Comecei a observar o comportamento das pessoas ao meu redor,
Algumas lendo jornais enquanto tomavam um café rápido no balcão,
Outras com alguns amigos nas mesas mais distantes, bebendo café, fumando e dando gargalhadas que ecoavam no ambiente.
O rosto quase que mecânico da garçonete,
Ela se aproximava com o semblante vazio,
Abria um sorriso pra ser simpática com os cliente,
E logo em seguida estava novamente séria como se organizasse em sua mente o que deveria fazer naquele momento.
E eu ali, perdida no meio de um café, mais vazia que o olhar dela.
Não lia jornal, nem conversava, muito menos gargalhava,
Apenas pensava na vida, isso quando eu conseguia me concentrar é claro.
Decidi organizar como em uma linha tudo de importante que eu havia feito no último ano,
As coisas boas que passei, os momentos ruins que me renderam um bom aprendizado,
Os amigos que fiz, os que perdi, os que se perderam de mim...
Os beijos roubados, os abraços apertados, os afagos recebidos, os carinhos trocados,
As topadas, quedas, deslizes, subidas e descidas, encontros e despedidas.
Tava tudo ali, eu só precisava organizar.
E comecei,
Escolhi tecer um cobertor a partir daqueles fios,um a um.
Tive medo que o trabalho ficasse inacabado, ou que pedaços não se completassem e o resultado não fosse bom.
Mas era incrível como tudo se encaixava tão bem!
Era como se houvessem sido feitos um para o outro.
E assim cada vez mais eu ia tecendo, enquanto os fios se entrelaçavam eu imaginava como ficaria o resultado final.
Quando enfim terminei lembrei de onde eu estava, olhei para os lados procurando o homem que lia o jornal,
Os amigos das risadas que ecoavam, a garçonete do sorriso programado,
Não vi ninguém, a não ser uma mulher que agora estava arrumando as mesas e me olhando como se perguntasse o que eu ainda fazia ali.
Toquei minha xícara e percebi que o meu café antes quase borbulhante agora estava frio,
Olhei pro relógio e me dei conta de como o tempo tinha passado e eu não percebi.
Deixei o dinheiro em cima da mesa e saí sem ser notada enquanto a mulher se virava pra pegar algo,
Saí daquela porta diferente de como entrei,
Olhei o céu e o sol já tinha ido embora dando lugar a uma lua esplendorosa,
Observei rapidamente as estrelas e dei um suspiro breve,
Um suspiro de alívio por ter terminado meu cobertor,
E de ansiedade em usá-lo, ele ficou lindo!
Com ele eu tinha certeza que jamais sentiria o frio dos dias vazios,
Ele é melhor do que qualquer café, pois não esfriará jamais, eu sou seu termômetro, e ele tem sempre a temperatura certa pra mim.
Feito por medida, a medida do meu sonho, do tamanho do meu desejo.

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