sexta-feira, 23 de abril de 2010

Ah, o amor...

Ela decidiu vê-lo pela última vez,
Foi em sua casa, a porta estava aberta, quase como um convite,
Ela aceitou.
Rapidamente olhou a casa totalmente revirada,
Sem muito esforço percebeu que pouco havia mudado desde que ela se foi.
Chamou por ele, mas não veio resposta,
Ouviu apenas uma música que vinha do quarto, e a seguiu.

Lá estava ele, sentado em sua mesa, atenção presa em papeis espalhados,
A música que tocava era a deles, a que juntos escolheram,
Escolheram para que cantassem o seu amor,
Agora parecia se despedir...
Parada na porta ela lembrou dos momentos vividos ali,
Enquanto a música se arrastava, rolaram lágrimas em seu rosto.

Embriagado de lembranças, tão afogado em saudades ele não a viu ali,
Continuava olhando os papéis.
Então ela desistiu de falar com ele e decidiu ir embora,
Enquanto amassava em suas mãos a carta que fez pra ele, pensou:
“Continua o mesmo, não me notou aqui.”
E saiu.

Seu pensamento parecia ter gritado aos ouvidos dele,
Levantou a cabeça e dirigiu os olhos a porta, viu apenas um vulto,
Correu pra ver quem era, mas sentiu apenas o cheiro dela no ar,
Aquele que era inesquecível e ainda estava em seus lençóis,
Mas não a viu.
Pensou que não passara de mais um de seus delírios,
Não poderia ser real.

Ela já ganhara as ruas, e na volta pra casa soluçava sem parar,
As lágrimas desciam como um rio,
Sua cabeça abrigava um turbilhão de emoções,
Todas queriam sair de uma só vez, mas ele não estava lá pra ouvir.

Os papéis que ocupavam a mesa eram cartas enviadas por ela,
Que agora se tornaram um refúgio pra ele,
Ele as lia e desejava com toda força que aqueles momentos voltassem,
Deixassem de ser lembrança, que a história continuasse, ele queria,
Mas nunca disse isso pra ela.
As palavras queriam sair, mas foram engolidas junto com as lágrimas,
Marcas de uma saudade.

Memórias que foram guardadas, tão bem guardadas que muitas acabaram perdidas.
Sentimentos que ficaram soltos no ar, e voaram sem rumo, pra longe dali.

Ele tomou coragem e a escreveu um email lhe falando o que sentia,
Contando como eram vazios seus dias desde que ela se foi da sua vida,
Terminou de escrever e enviou, mesmo sem esperar resposta.
Assim que chegou em casa ela rasgou a carta, agora amassada,
E jogou fora, junto com a esperança de que algo mudaria pra eles.

Tomou um banho e antes de dormir verificou seu email, como sempre fazia.
Lá encontrou aquelas palavras que há tanto esperava,
Elas foram capazes de sem qualquer contato, despedaçar seu coração,
Como ele podia ter calado isso por tanto tempo?
Era tudo que ela precisava pra viver, e agora parecia matá-la aos poucos.
Respirou fundo, juntou os caquinhos e respondeu assim:

“Com nossa história aprendi que o amor é raro, e ele não espera que a gente abra a porta pra ele entrar, ele escolhe um lugar e invade.
Muda tudo e o transforma em seu lar.
Mas se esse lar fica vazio, ele vaga...
Varre o restinho do que encontrar pelo caminho e vai,
Deixando só uma marca de dor, solidão.
Tal como o fogo, ele pode ferir ou curar, transformar, ou destruir,
Depende de quem o mantém aceso.
Veja só o que fizemos... ele foi tão generoso conosco, mas nós fomos egoístas,
Nunca nos doamos por completo, estamos sendo castigados por isso.
Será que teremos um dia outra chance?”

Desligou o computador e foi dormir.

Na manhã seguinte acordou com batidas na porta,
Quando abriu viu apenas um buquê de lírios, suas flores preferidas,
Junto com um bilhete que dizia assim:
“ Essa noite o amor me visitou, disse que na verdade nunca saiu daqui,
Só precisamos encontrá-lo, juntos!. O que me diz?”
Logo abaixo tinha um telefone, que ela conhecia muito bem.

Ao terminar de ler seus olhos se encheram de lágrimas,
E sua boca testemunhou um sorriso que iluminou toda a casa.
Seus pés a levaram ao telefone...