sábado, 4 de abril de 2015

Diariamente.

Todos os dias você pega o mesmo ônibus, no mesmo horário, faz o mesmo caminho, quase sempre com as mesmas pessoas.
Naquele dia foi diferente.
A chave prendeu na porta bem na hora de trancar, e aqueles dois minutos foram suficientes pra você perder o ônibus de sempre.
Mas veio outro - porque sempre vem - embora você já estivesse pensando na desculpa que ia dar no trabalho, já que o atraso era inevitável.
Então você sobe, paga a passagem, procura um lugarzinho pra repousar a sua pressa, senta, toma posse dos seus fones de ouvido e enfim relaxa, agora não tem mais o que ser feito.
Os seus olhos procuram alguma coisa pra se ater, mas só vagueiam entre as coisas e pessoas que passam rapidamente pela janela.
Nessa hora você não pensa em nada específico, na verdade você nem ouve atentamente o que tá rolando na sua playlist. É tudo muito automático. Como tem sido tudo no seu dia, há dias!

Eis que um vulto te chama a atenção e você olha. 
Não havia nada além de sombra e luz ali, mas os teus olhos foram atraídos e você não resistiu.
Quando você se deu conta, já era tarde. 
Aquele estranho já tomou a tua atenção por completo.
Começou a tocar aquela música que você nem gosta tanto, mas você nem se deu conta e muito menos se importou em mudar, porque só o que te interessa é saber alguma coisa desse alguém, que ainda não tem nome, mas que você deseja loucamente chamar pra perto.
Sem pedir licença, ele acelerou teu coração, te fez querer sentir o cheiro dele, tocar, guardar um pedacinho pra você.
O teu ponto de parada passou, e você só notou porque ele desceu na parada seguinte.
Sim, ele se foi. E você continua sem saber nada sobre ele, ele nem notou a tua presença ali, e isso foi o suficiente pra te deixar com um sorriso bobo o dia todo. 

Deixa eu te contar menina... Às vezes isso é tudo o que a gente precisa: mudar o caminho!
Existem tantas possibilidades, mas você não vê, porque decidiu que aquele é o melhor caminho, o melhor lugar. O mundo é tão vasto, moça. 
Há tantos sorrisos por aí, espalhados, só esperando pelo momento de esbarrar com a tua boca.
Não sei se você e esse estranho se verão outra vez, mas sei que teus olhos agora estarão mais atentos, sei também que os acasos serão mais bem vindos, e até os atrasos serão apreciados.

É que a vida tem dessas coisas, menina. Ela gosta de, constantemente, nos provar a sua efemeridade.
Ahhh, e como são gostosos esses efêmeros mergulhos em mar aberto, de forte correnteza, com nada pra se prender, sem terra firme pra pisar. Eles exigem leveza pra flutuar. E isso basta: leveza.

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